"O meu país é a utopia. Um mapa do mundo que não compreenda o país da Utopia não merece nem mesmo um olhar, pois ignora o único país ao qual a humanidade continuamente chega. E quando a humanidade lá atraca, fica alerta, e levanta novamente as âncoras ao vislumbrar uma terra melhor."- Oscar Wilde

SATYRICON DELÍRIO - Um cortejo em direção a Hades/Plutão!



TRIMALCIÃO – Que noite, deuses e deuses! Que farra desavergonhada! Pelas palavras e pelos atos, mil vezes trocamos nossas almas. Adeus delícias da vida! Parece que vamos morrer! Bem que poderia ser com algum tipo de glória. E não como plebeus bêbados, vomitando uns nos outros.
EUMOLPO – Ah, morte! Morte implacável, por que insiste em roubar de nós, vivos, o que mais amamos? Por que teima em transformar beleza em podridão? Por que não o contrário. Viveríamos como mortos e no final, renasceríamos como deuses de encantamento? Seria tão lindo! Tão digno!
MARCEL (SATYRO 1) – De que valem todos os sacrifícios para nos mantermos limpos, se depois de uma noite de sangue e festa somos dominados pela ressaca da desumanidade? Ah, que coisa nojenta é o homem! Criatura sem elegância nem beleza!
LEO (SATYRO 2) – Quantas vezes os deuses descerão à terra para nos tratar como idiotas? Quantas vezes adoraremos os deuses craquentos ao invés dos brincalhões?
PETRÔNIO – Vamos amigos de farra! Caminhemos para o abismo com a cabeça erguida – se possível! – e tenhamos a certeza de que tudo tem um fim. A imagem da morte deve ser como um espelho que nos ensina ser a vida apenas um sopro passageiro.
EUMOLPO – Que grande merda! Viver a vida para acabar dessa forma tão indigna!
TODOS – Cala a boca!!!
TRIMALCIÃO – Quero que o terreno onde me enterrem tenha cem vezes o tamanho da minha cova, que é o tamanho do poder que tive enquanto vivo. Quero que, em volta das minhas cinzas, ergam pelo menos dez estátuas minhas, em mármore branco, nu, figurado como atleta coroado de louros!
TRIFENA – Cala a boca!
MYRON – Toca essa merda desse cortejo!
TRIMALCIÃO – Pra quê? Para o inferno temos que caminhar com calma.
LICAS – Mas nós não somos ricos? Não somos eternos? Não somos invulneráveis?
TODOS – Cala a boca!!!
PETRÔNIO – Lembraremos dos vivos. Tivemos tudo que merecemos. Vivemos bem, morremos na merda. Mas não se culpem! Os pobres, os inocentes, os justos e os virtuosos quando morrerem vão feder tanto quanto nós, também vão servir de comida aos vermes e vão ser esquecidos mais depressa! Ainda mais uma vez com os grandes ninguém pode! Até na morte, o cu do pobre é que se explode!
TODOS – Cala a boca!!!
TRIMALCIÃO – Sigamos de cabeça erguida que Plutão nos espera com um banquete!


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