TRIMALCIÃO – Que noite, deuses
e deuses! Que farra desavergonhada! Pelas palavras e pelos atos, mil vezes
trocamos nossas almas. Adeus delícias da vida! Parece que vamos morrer! Bem que
poderia ser com algum tipo de glória. E não como plebeus bêbados, vomitando uns
nos outros.
EUMOLPO – Ah, morte! Morte
implacável, por que insiste em roubar de nós, vivos, o que mais amamos? Por que
teima em transformar beleza em podridão? Por que não o contrário. Viveríamos
como mortos e no final, renasceríamos como deuses de encantamento? Seria tão
lindo! Tão digno!
MARCEL (SATYRO 1) – De que
valem todos os sacrifícios para nos mantermos limpos, se depois de uma noite de
sangue e festa somos dominados pela ressaca da desumanidade? Ah, que coisa
nojenta é o homem! Criatura sem elegância nem beleza!
LEO (SATYRO 2) – Quantas vezes os deuses descerão
à terra para nos tratar como idiotas? Quantas vezes adoraremos os deuses
craquentos ao invés dos brincalhões?
PETRÔNIO – Vamos amigos de
farra! Caminhemos para o abismo com a cabeça erguida – se possível! – e
tenhamos a certeza de que tudo tem um fim. A imagem da morte deve ser como um
espelho que nos ensina ser a vida apenas um sopro passageiro.
EUMOLPO – Que grande merda!
Viver a vida para acabar dessa forma tão indigna!
TODOS – Cala a boca!!!
TRIMALCIÃO – Quero que o
terreno onde me enterrem tenha cem vezes o tamanho da minha cova, que é o
tamanho do poder que tive enquanto vivo. Quero que, em volta das minhas cinzas,
ergam pelo menos dez estátuas minhas, em mármore branco, nu, figurado como
atleta coroado de louros!
TRIFENA – Cala a boca!
MYRON – Toca essa merda desse
cortejo!
TRIMALCIÃO – Pra quê? Para o
inferno temos que caminhar com calma.
LICAS – Mas nós não somos ricos?
Não somos eternos? Não somos invulneráveis?
TODOS – Cala a boca!!!
PETRÔNIO – Lembraremos dos vivos.
Tivemos tudo que merecemos. Vivemos bem, morremos na merda. Mas não se culpem! Os
pobres, os inocentes, os justos e os virtuosos quando morrerem vão feder tanto quanto
nós, também vão servir de comida aos vermes e vão ser esquecidos mais depressa!
Ainda mais uma vez com os grandes ninguém pode! Até na morte, o cu do pobre é que
se explode!
TODOS – Cala a boca!!!
TRIMALCIÃO – Sigamos de cabeça erguida
que Plutão nos espera com um banquete!
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