Ensaiar tem muitas variáveis.
Tem dias em que tudo é uma alegria imensa de descobertas e criações; tem dias
em que tudo apenas se repete para reafirmar o que já se fez ou negar tudo com o
coração em sangue; tem dias em que o tédio se estabelece e aí o sinal de alerta
brilha vermelho e forte; tem dias em que tudo se transforma e o que parecia
certo e exato e certo no dia anterior, vira uma nova forma mais viva, mais
vibrante... ou não! Fato é que na criação de uma peça de teatro é preciso dar
uma chance para o imponderável e o desconfiômetro tem sempre que estar ligado.
Mas essa construção pede um sentimento, uma sensação, um “tom”, que nunca pode se
perder no meio de tantas ideias, improvisações e possibilidades. “Satyricon
Delírio” sempre me dá a sensação de um universo de caos, de anarquia, de
bagunça, de “zona”, no que esta palavra tem de mais sacana e matreira. E mesmo
que alguns conceitos de narrativa ou de linguagem implorem para se fazer
presentes, cada vez que o tal sinal de alerta brilha vermelho, eu volto para a
tal “zona” com uma certeza/incerteza de que o caminho é esse mesmo. O teatro da
zona! Uma deselegância, uma grosseria, uma falta de vergonha na cara! Mas fazer
o quê? O teatro é e sempre será aquilo que nós colocamos no palco! Porque
tantos e tantos mil anos depois de Sófocles, Eurípedes e Ésquilo, o mistério
pode bem acontecer num lugar de festa e sofreguidão. E celebração é uma questão
de ponto de vista!
(Fotos de Chico Nogueira em ensaios quaisquer...)
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