"O meu país é a utopia. Um mapa do mundo que não compreenda o país da Utopia não merece nem mesmo um olhar, pois ignora o único país ao qual a humanidade continuamente chega. E quando a humanidade lá atraca, fica alerta, e levanta novamente as âncoras ao vislumbrar uma terra melhor."- Oscar Wilde

TRAGÉDIAS & MANGÁ - AS TROIANAS no cinema!

AS TROIANAS NO CINEMA


Em 1971, Michael Cacoyannis, diretor grego, indicado ao Oscar de Melhor Diretor em 1964, por "Zorba - O Grego", dirigiu a tragédia de Eurípedes com um elenco espetacular: Katherine Hepburn (Hécuba), Vanessa Redgrave (Andrômaca), Irene Papas (Helena) e Genevieve Bujold (Cassandra). O filme é tão mítico quanto a obra e esta aí, completo no YouTube, com legendas e tudo! A cópia está meio fraca, mas qual o problema? Vale o cuidado de assistir e perceber o que se perde e o que se ganha com a transposição de uma obra teatral para a linguagem cinematográfica. São três experiências absolutamente diferentes:  ler a obra, assisti-la no teatro e depois no cinema! Michael Cacoyannis faleceu em 2011 aos 89 anos e seu último trabalho para o cinema foi outra adaptação de obra clássica: O Jardim das Cerejeiras, de Tchekhov!

TRAGÉDIAS & MANG'Á - Para as Troianas...

PARA AS TROIANAS…

Informa o Plantão do Grupo Delírio Cia. de Teatro!!!



Com a turma da noite da Oficina “Tragédias & Mangá” encenaremos “As Troianas”, de Eurípedes. A encenação terá como base a adaptação que Jean Paul-Sartre fez da tragédia. Uma palhinha...

“HÉCUBA – De pé, Hécuba! De pé! Endireita a coluna encarquilhada, sua velha torta! Para de chorar e tenha paciência. De nada vai adiantar remar contra a corrente. O destino te arrasta, mulher! Então deixa-se levar por ele.
CORO – O que acontece em teu coração, Hécuba?
HÉCUBA – Não posso resignar-me. É isso.
CORO – Abusaram do teu corpo?
HÉCUBA – Nenhum dedo grego tocou em mim. Mas não há uma só dor no mundo que não seja minha!
CORO – Sabemos.
HÉCUBA – Mas vou repetir até a eternidade. Rainha, desposei um rei. Dei-lhe os mais belos filhos. Os gregos mataram um a um. E Príamo, meu marido; eu estava presente quando o degolaram. Vi sua garganta aberta e o sangue jorrando. (NT) – E minhas filhas.
CORO – O que nos diz, rainha?
HÉCUBA – Eduquei-as para os maiores reis da Ásia. Agora servirão de objetos, escravas, lambendo os calcanhares imundos de seus novos senhores: os gregos. (NT) – Malditos! Malditos sejam vocês que destruíram minha cidade e minha família.

CAI. LEVANTA-SE.

HÉCUBA – Ah, e como são lindos os navios gregos! Mil embarcações que poderiam carregar felicidades empurradas pelo vento em suas velas. Voltam hoje para sua Grécia querida. Levam sua cara Helena e o espírito de todos os troianos mortos. Era preciso massacrar meu povo para recuperar a glória perdida com a desonra do rei Menelau? (NT) – Viúvas troianas, virgens de Tróia, noivas dos mortos, olhem pela última vez sua cidade e, comigo, lamentemos nossa sorte! “



Imagens da encenação do Theatre South Carolina - Direção de Bonnie J. Monte
Cenografia de Kimi Maeda

TRAGÉDIAS & MANGÁ - O Mistério de Etienne - 2 (A arte do ator)

A ARTE DO ATOR

ANGELS IN AMERICA, de Tony Kushner - Toronto - Canadá
- Você sempre se interessou pelo corpo do ator no Teatro?
- De certa forma sim, mas depois de um tempo eu comecei a perceber que a percepção da energia no corpo do ator, determina a sua presença cênica. O ator está fazendo tudo certo, mas o seu corpo não está indo pelo mesmo caminho. O que parece ser um acerto acaba virando um equívoco. Entende?
- Mais ou menos.
- Voltamos a Etiénne.
- Vamos lá!
- A vida no teatro está na arte do ator.
- Há controvérsias.
- Não pra mim.
- Ok.
- O ator é o mestre do teatro e o seu corpo é seu único instrumento de trabalho. Para fazer nascer uma obra artística, teatral, é preciso investigar a arte do movimento, das ações e do gesto do ator. Grande parte dos artistas de teatro abandonou a sinceridade e optou pela ironia, pela crítica, pelo distanciamento porque é muito difícil para o público acreditar no teatro já que ele sabe que é tudo uma encenação. Mas o mistério nunca é uma encenação. O distanciamento crítico ou irônico, em grande parte das vezes, é uma solução imediatista. E onde está o mistério? No corpo do ator. Se a plateia acreditar naquele corpo diferente, em estado puro de interpretação, grande parte do problema estará resolvido. Não será preciso parecer inteligente ou engraçadinho ou irônico para ser convincente. O corpo do ator, vivo, belo, harmônico e livre vai ser o caminho que levará o público até o mistério.
- É por isso que ele precisa estudar constantemente o seu corpo?
- Exato! Quando o teatro não precisar mais do corpo do ator, então ele pode desistir de estudar seu corpo. Mas o teatro moderno é o corpo do ator. O ator é tudo! Podemos abrir mão de tudo, menos do ator.
- Anular o ator é uma possibilidade para o teatro contemporâneo. Ou não?
- Anular a ação e o movimento é, sim, uma possibilidade. Anular o ator, nunca! Faço pra você uma pergunta...
- Faça.
- Você, parado, imóvel, no centro do palco. O que o diferencia de um objeto de cenário?
- ...
- ?
- A vida?
- A vida é o mistério e...
- E?
- O teatro é a arte do ator. E me perdoe se pareço antigo dizendo isto. Não vejo outra possibilidade.

...

TRAGÉDIAS & MANGÁ - O Mistério de Ettiene - 1

O MISTÉRIO DE ETTIENE - 1


- De repente você ficou pensativo.
- De repente me veio à mente um homem que conheci há muito tempo.
- Muito?
- Nem tanto, mas muito. Um homem que me ensinou a essência das coisas. Um sujeito encantador, um artista, um professor, um mestre. Apesar da idade, já tinha passado dos 70 anos, era uma verdadeira tempestade de energia e desejo.
- Quer me falar dele?
- É bom lembrar. Ilumina minhas convicções. Acorda meus músculos adormecidos.
- Hammm...
- Sabe qual era a sua maior característica? A paixão. Paixão que lhe provocava momentos de grande cólera e também momentos de grande beleza interior. Odiava qualquer sinal de preguiça. Doava-se o tempo inteiro para tudo o que tinha a ver com o teatro. Tinha apetite pelo belo e explodia de vida, imaginação, cultura. Tinha obsessão pelo bem-fazer, pelo bem-conceber, não demonstrava nunca qualquer tipo de fraqueza, quando o assunto era a arte, o trabalho.
- Como era seu nome?
- Ettiene. Dessas pessoas que passam pela sua vida e deixam uma marca! Sua marca era um pensamento: “O teatro é o ator. O ator é a arte do corpo. Então, o teatro é a arte do corpo.”
- ...
- Me disse outras coisas lindas. Ensinou-me que a nossa arte do teatro é a arte de ampliar e depurar. Entende?
- O quê?
- O que fazemos na vida todas as vezes em que não dançamos. Que nossa arte é reconstruir a natureza a partir dos nossos corpos. E é daí que surgem os grandes temas clássicos que usamos pra colocar no palco: a luta, o trabalho, as relações amorosas, a guerra, o fervor político, a relação com Deus, as relações com a sociedade. E também o que nos falta. Tudo o que nos falta, mesmo que tenhamos tanto. Mas sempre nos falta alguma coisa, não é?
- Tanto...
- E não é um bom motivo? Por que fazemos teatro? Porque nos falta o teatro. E o que nos falta para fazer teatro? Que tal?
- Você sempre dá um nó em meus pensamentos.
- Tento.
- Consegue.
- Por que vamos em direção ao misterioso?
- Por quê?
- Por quê?
- Por quê?
- Porque precisamos do mistério. É inconcebível querer ir para a cena e não permitir-se algum tipo de rompimento. Precisamos depurar nosso corpo, ampliar nosso corpo, depurar nosso espírito, ampliar nosso espírito. Não tem outro jeito. Nem existe uma formula. É isso é pronto.
- ...
- ...
- Silêncio de novo?
- Continuamos amanhã?
- Que dúvida.
- Então vamos tomar um café com leite e saborear um misto frio. Adoro.
- Vamos. É sempre você quem decide.
...

Ettienne Decroux - 1808/1991


TRAGÉDIAS & MANGÁ - HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO...

HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO...



- E que tal o filme?
- Emblemático.
- Os piás mandam bem?
- Muito bem. São carismáticos, talentosos e enchem a tela de ternura e beleza.
- Então “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” vale o ingresso?
- Muito.
- Mas fica nisso?
- Ah, sei lá. Acho que é um filme que faz muito bem ao cinema brasileiro. Abandona a mesmice, é sincero, feito com carinho, delicadeza, amor. Não é pouco.
- Mas não te agradou 100%?
- Minha escola.
- Ham?
- Eu sou filhote do Woody Allen, Hitchcock, Fellini, Bergman, Buñuel, Glauber… e gosto de ver o diretor interferindo no filme. Acho que o Daniel Ribeiro fez o filme de longe, sem querer muito com ele, a não ser despertar simpatia na plateia. É impossível não se encantar com a pureza e ingenuidade dos meninos, mas o filme podia ser mais profundo, mais cinematográfico. Podia aprofundar a personalidade dos meninos. Entendo que em muitos casos a pureza das intenções é o suficiente... Mais ou menos como “O Palhaço” do Selton Mello. Lembra? É, digamos assim, um cinema de ingenuidade.
- Parece que você não gostou.
- Gostei sim. Até me emocionei no final. Precisamos de obras que quebrem paradigmas. E eu acho que “Hoje...” é, naturalmente, belo quando inventa um mundo quase perfeito. Um mundo na tela, quase perfeito, que não tem espaço nem para os defeitos. Mas é arte, não é? Não precisa refletir a realidade, basta pensar coisas que fazem parte dela. Só acho que a linguagem cinematográfica podia ser menos novela das sete. Mas sou eu que acho.  Quanto mais pessoas assistirem “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, melhor. Melhor para o Brasil, melhor para as pessoas, melhor para o cinema brasileiro.
- E o que o filme tem a ver com “Tragédias & Mangá”?
- Ah... vá se foder...!
- kkkkkkkkkkkkk.....
...
Fabio Audi e Guilherme Lobo... Carismáticos e talentosos....

TRAGÉDIAS & MANGÁ - Sensibilidade, profundidade, concentração, expressividade....


SENSIBILIDADE, PROFUNDIDADE, CONCENTRAÇÃO, EXPRESSIVIDADE...

Patrick Stewart (Vladimir) e Ian Mckellen (Estragon) em "Esperando Godot", de Beckett

- Você fala em atores sensíveis… Sei do que você está falando. De atores que estão em contato permanente com a totalidade dos seus corpos. Mas, e atores profundos?
- Fácil também, não é?
- Fácil. Gente que vive cada momento da sua vida ao máximo.
- É. O problema é que alguns atores estão vivendo uma coisa e pensando em outra. Ou vivendo tudo pela metade. Você fala, por exemplo, em “tragédia” e o ator não se dá ao trabalho de aprofundar o conhecimento do termo. Fica satisfeito com uma explicação rápida. É preciso ir a fundo.
- Sou assim?
- Mais ou menos. Você não se alimenta de nem um décimo do que precisa e de nem um pentelhézimo do que pode. Contenta-se com pouco. Acha que desejo é tudo. Mas desejo é só um ponto de partida.
- Você me acha, pelo menos, concentrado?
- Concentração é treinamento. É desenvolver a capacidade de viver intensamente cada segundo do momento presente. Quando você treina isso, por exemplo, nos ensaios, consegue concentração num estalar de dedos quando vai fazer a peça. Caso contrário vai ficar, durante as apresentações, procurando aquilo que nunca experimentou. E, claro, nunca vai encontrar. Tem que treinar, treinar e treinar. Abusar do momento presente. Aprender a colocar toda a sua energia no momento presente.
- E expressividade?
- Ao contrário de muita gente, eu adoro atores que gostam de aparecer. “Ninguém sobe no palco para se esconder” me disse um dia a Fernanda Montenegro. Claro, ela não disse só pra mim, mas para uma plateia de 100 alunos no Mini-Auditório do Teatro Guaíra. Mas disse. Gosto de gente que abre os braços ao máximo, que se escancara, que exagera, que se entrega para as emoções mais espalhadas. Gosto de atores narcisistas no bom sentido. Ser narcisista não é, necessariamente, ser egocêntrico. Ser narcisista é gostar de se mostrar, de usar todas as técnicas para que os olhos da plateia estejam nele. Isso também não tem nada a ver com “roubar cena” ou usar de golpes baixos. Tem a ver com paixão, com necessidade de estar presente, de se comunicar. Sei, sei que o limite entre o certo e o errado é tênue. Mas é preciso experimentá-lo para ir além do óbvio. Só quem arrisca surpreende.
- Mais alguma coisa?
- Os atores precisam emanar luz e energia, mesmo quando estão estáticos no palco. Isso é técnica, mas é também predisposição espiritual e humana. É preciso aprimorar a alma, a consciência da vida, a humanidade. Ser uma porta aberta. Ah, olha aí eu usando e abusando do Peter Brook novamente!
- Sem problemas.
- Ótimo!
- Que tal um café?
- Opa!
- ...
- ...
- Você acha que eu chego lá?
- O que você acha de você mesmo? E dos caminhos pelos quais tem caminhado?
...

 Patrick Stewart (Vladimir) e Ian Mckellen (Estragon) em "Esperando Godot", de Beckett

TRAGÉDIAS & MANGÁ - LARS VON TRIER

NYMPHOMANIAC 2 – de LARS VON TRIER


- Estava pensando aqui… São dois filmes diferentes, embora pareçam iguais. Duas partes de um mesmo. Mas não, são dois filmes diferentes. Um meio sem rumo e outro muito bom.
- Do que é que você está falando?
- “Nymphomaniac”, do Lars Von Trier. Na mesma medida em que achei a primeira parte, uma inutilidade atroz, achei a segunda parte quase excepcional! O velho Lars colocando o dedo na ferida ou cutucando a onça com vara curta.
- O provocador.
- É. Muita coisa ilustrativa acontece, mas o melhor mesmo são os diálogos entre a personagem da Charlotte Gainsbourg e o personagem do Stellan Skarsgard. É um filme tese. Como, aliás, todos os filmes do Lars. “Nymphomaniac 2” tem um roteiro rocambolesco, uma salada russa que só serve mesmo para que o Lars vá descarregando sua visão niilista da humanidade. As relações humanas, sejam sociais, econômicas ou sexuais, são sempre pautadas pelo sadismo, pela crueldade, pelo poder. Ele odeia a burguesia e isso sempre fica muito evidente em seus filmes.
- O problema é que é justamente a burguesia quem vai assistir aos seus filmes.
- Contradições da arte.
- Mas a burguesia é matreira.
- Tudo em “Nymphomanic 2” é um pretexto para dizer que não temos saída e que tudo está construído em alicerces fajutos e que só o que nos resta mesmo é a hipocrisia e que só os hipócritas sobrevivem. Sinceridade é um perigo em nossa sociedade hipócrita.
- Que foda, né?
- Foda.
- ...
- Um diálogo e um monólogo eu considero excepcionais.
- Quer falar.
- Claro!
- Então vai!
- Joe: Cada vez que uma palavra se torna proibida você remove uma pedra do alicerce democrático. A sociedade demonstra sua impotência em face de um problema concreto, removendo palavras da língua.
Seligman: Acho que a sociedade diria que politicamente correto é uma expressão muito precisa de preocupação democrática com as minorias.
Joe: E digo que a sociedade é tão covarde quanto as pessoas nela, que, na minha opinião também são demasiado estúpidas para a democracia.
Seligman: Entendo o seu ponto de vista, mas discordo totalmente. Não tenho nenhuma dúvida sobre as qualidades humanas.
Joe: As qualidades humanas podem ser expressas em uma única palavra: hipocrisia. Enaltecemos aqueles que dizem o certo, mas desejam o errado; e zombamos daqueles que dizem o errado, mas desejam o certo.
- Como você conseguiu decorar este diálogo?
- Não decorei. Escrevi.
- Ah!
- E tem o monólogo da Joe para as colegas de terapia e para a terapeuta.
- Fala.
- Queridas, acho que não tem sido fácil, mas agora entendo que não somos e nunca seremos iguais. Eu não sou igual a você, que fode para ser aprovada e poderia muito bem parar de colocar paus dentro de você. E eu não sou igual a você. Tudo o que você quer é ser preenchida. E quer seja por um homem ou por toneladas de alimentos nojentos, não faz diferença.
- Ela vira a mesa.
- Aí olha para a cara da terapeuta e dispara: E, definitivamente não sou igual a você. Essa empatia que você clama é uma mentira, porque tudo que você é, é a vigília da moralidade da sociedade, cujo dever é apagar a minha obscenidade da superfície da terra, para que a burguesia não se sinta doente. Eu não sou igual a você. Sou ninfomaníaca e amo ser assim. Mas, acima de tudo, amo a minha buceta e a minha luxúria imunda e obscena.
- Ufa!
- Pois é.
- ...
- ...
- E o que o filme do Lars Von Trier tem a ver com Tragédias & Mangá?
- Acho que nada. Ou tudo. Afinal não fala do ser humano? Por caminhos tortuosos, tudo fala de uma mesma coisa, não é? Por alguma razão me lembrei dos diálogos cruéis entre Menelau e Hécuba em “As Troianas”, do Eurípedes. Minhas associações, minha intuição...

...


TRAGÉDIAS & MANGÁ - Seu corpo Meu corpo

SEU CORPO MEU CORPO

Grupo Expressão - Rio de Janeiro
...
- Dia destes você me falou que, pra você, tudo começa pelo corpo. Pode falar mais um pouco?
- Você precisa parar de pensar.
- É possível?
- Acho que é.
- Parar de se preocupar. Você, antes de qualquer coisa, precisa perder o medo do seu corpo.
- Você acha que eu tenho medo do meu corpo?
- Todo mundo tem algum tipo de medo relacionado ao seu corpo. Medo do que pode fazer e, principalmente, medo do que não pode fazer. Lembra-se que eu te disse o óbvio ululante que é o “conhece-te a ti mesmo!” do Sócrates?
- Lembro.
- Então. Tem coisas relacionadas à fisiologia que algumas pessoas não podem mesmo. E então, paciência. Não pode. Mas o importante é que você deve reconhecer o que você pode e permitir-se a aventura de ir em busca do que você pode e não sabe. Ser você nunca se arriscar, nunca vai sair do lugar. Sinto muito, mas essa é uma decisão sua, porque o corpo é seu, a vida é sua.
- Você quer que eu sofra?
- Um pouco.
- Já estou sofrendo então.
- A partir da sua pesquisa do seu corpo. Friso aqui: do seu corpo! A partir dessa pesquisa você vai descobrindo técnicas e também vai inventando técnicas. E são essas técnicas que vão te dar liberdade pra criar. Só pessoas livres criam. Quem não é livre ou imita ou obedece. Não é um artista.
- E tudo começa pelo meu corpo?
- Isso. Aí você começa a potencializar, conhecer, colocar o seu corpo a serviço das suas aspirações artísticas. Entende?
- Mais ou menos.
- Você vai se sentir tão livre no tempo e no espaço, vai ter tanto prazer de fazer e acontecer com seu corpo que o deus da criatividade vai tomar café, almoçar, dormir e acordar com você. Seu corpo vai estar a serviço da sua alma, da sua inteligência, daquilo que você quer contar com sua arte. Do contrário, o que você pensa não se realiza. Seu corpo é arte. Ele é a obra de arte diante do público ou com ele.
- Como começar?
- Bem... você já sabe andar, para em pé, corre... precisa usar a imaginação e fazer outras coisas com ele. Colocá-lo em xeque. Precisa experimentar volumes, forças, geometria, equilíbrio, desequilíbrio, gravidade, matemática, torto, direito, rápido, lento, pesado, leve, chão, ar... tanta coisa.... Seu corpo.
- Meu corpo.
- Seu.
- Meu.
...

Pina Bausch - Tanztheater

TRAGÉDIAS & MANGÁ - Você é um ator extremamente convincente...!

UMA PERGUNTA INDISCRETA


- Posso te fazer uma pergunta indiscreta?
- Mande!
- Você gosta do meu trabalho?
- Gosto.
- Verdade?
- Por que eu iria mentir?
- Sei lá! Mas você nunca fala das coisas que me vê fazer. Sempre diz um tal dum “parabéns” meio da boca pra fora.
- É verdade. Eu, na verdade, acho que um artista deve dar sempre este tal “parabéns” para seus colegas. Porque um artista sabe o trabalho e a dificuldade que é ensaiar, ensaiar e depois encarar o público de peito aberto.
- Então eu tenho que interpretar este teu “parabéns”como um carinho, ao invés de um elogio?
- Poderia dizer que sim, mas eu gosto do teu trabalho. E não sou só eu. Todo mundo gosta.
- Mas falta alguma coisa, não é?
- ...
- Vai! Confessa! Eu estou preparado para ouvir qualquer coisa que venha de você.
- É mais simples do que você imagina.
- Explique.
- Você cumpre com absoluta perfeição 50% do trabalho de um ator. O que é muito e é mais do que fazem 75,16% dos atores em geral.
- O quê?
- Você é um ator extremamente convincente!
- ?
- Porque um ator tem que ser, antes de qualquer coisa, convincente! O público tem que acreditar no que você está fazendo no palco e naquilo que você se propõe a fazer!
- E eu sou 100% convincente?
- 100%.
- E o que eu não sou?
- Você não é 100% surpreendente.
- Quê?????
- Porque um ator não tem que ser apenas convincente. Ele tem que ser também surpreendente! Você é ótimo, muito bom de ver no palco e, como eu percebi em toda a tua carreira, um ator que se adapta facilmente à diversas linguagens. Todos os diretores gostam do seu trabalho. Mas...
- Mas...
- Não surpreende. Convence, mas não surpreende.
- Merda!!!
- É como se nós soubéssemos muito bem o que você vai fazer no palco e você nunca faz alguma coisa a mais. Nunca arrisca. Nunca enlouquece de verdade. Quer ter sempre controle de tudo. De você mesmo e do que acontece à tua volta. Aquele fogo que tão caro custou a Prometeu quando ele o roubou de Zeus e entregou-o aos homens, parece que não queima você. Você é um belíssimo ator convincente. Sempre vai ter trabalho.
- Mas não surpreendo...
- Pelo menos até hoje.
- Obrigado.

- Sorry.


Fotos de coreografia de Pina Bausch

TRAGÉDIAS & MANGÁ - Luz e energia...!

KAZUO OHNO na quase imobilidade emanava luz e energia!
...
- Por onde tudo começa?
- Olha, eu posso afirmar categoricamente, que tudo começa pelo corpo. Tudo começa pela relação que você tem com seu corpo.
- Ham?
- Você tem que ser sensível. Mas ser sensível, quando o assunto é o teatro, não é você se emocionar com o desabrochar de um miosótis.
- Engraçadinho!
- Também. “Ser sensível, para um ator, significa estar permanentemente em contato com a totalidade de seu corpo”. Quem falou foi o Peter Brook. E eu acho que a gente tem que acreditar nele, não é? Somos impregnados de pontos de tensões, máscaras e armaduras. Isso não é novidade. Tenho certeza de que você já ouviu isso dezenas de vezes. Novidade é você resolver que vai encarar esses pontos de tensões de frente! E fazer alguma coisa com eles. Porque eles impedem que a energia flua naturalmente e você faz das tuas percepções e sensações uma verdadeira corrida de obstáculos! E como se resolve essa coisa? Você tem que ter coragem de olhar pra dentro de si mesmo. Dar-se tempo. Controlar a sua ansiedade de estar o tempo todo em movimento e o tempo todo fazendo coisas e olhar para si mesmo. O treinamento pode te dar essa oportunidade. Aprimorar esse olhar. Aprofundá-lo. Mas antes você precisa convencer-se de que é uma verdade incontestável a afirmação de que tudo começa pelo corpo.
- Tipo, ter fé?
- Isso. Ter fé! E como também disse o Sócrates, você precisa conhecer-se! “Conhece-te a ti mesmo!” Você precisa aprofundar o conhecimento que você já tem de si mesmo. Aprofundar-se nas suas sombras. Ter coragem de assumir suas imperfeições e usar e abusar de suas potencialidades. Não viva teatro na superfície. O teatro precisa de atores sensíveis, atores profundos, atores concentrados, atores expressivos, atores que emanem energia e luz!
- Você quer tudo isso de mim?
- Na verdade, quero que você experimente essa espécie de nirvana. Que você sinta-se importante no palco, tão necessário que as pessoas saem de casa para vê-lo. Um dia li uma crítica da Barbara Heliodora onde ela dizia o seguinte de um ator: “... tal ator não serve.”
- Mas não serve pra quê?
- Não serve e ponto final. Porque nos precisamos servir aos outros. E essa é uma experiência maravilhosa!

- ...

TRAGÉDIAS & MANGÁ - PASOLINI

Como devem ter dito Sófocles, Eurípedes e Aristóteles...


TEATRO É SEMPRE POLÍTICO!

Édipo Rei - Filme de Pasolini de 1967

... e Pier Paolo Pasolini também... !!!

Começam hoje, quarta-feira, as Oficinas....!

TRAGÉDIAS & MANGÁ - O Corpo...

Simples de tão complexo:
TUDO COMEÇA PELO CORPO!

Carlos Simioni, ator excepcional do LUME - Laboratório Unicamp de Movimento e Expressão e um dos fundadores do Grupo Delírio em 1984!

"Ser sensível, para um ator, significa estar permanentemente em contato com a totalidade de seu corpo."-
Peter Brook

Quarta-Feira, dia 16, começam as duas Oficinas "Tragédias & Mangá" - Quem viver, verá!

TRAGÉDIAS & MANGÁ - DESEQUILÍBRIO E DESORIENTAÇÃO...

DESEQUILÍBRIO E DESORIENTAÇÃO


Com o patrocínio de Marcel Gritten!

“Todo ato criativo requer um salto no vazio. O salto tem que ocorrer no momento certo e, no entanto, a hora de saltar nunca será estabelecida de antemão. Não há garantias quando se está no meio do salto. Em geral, saltar causa uma perplexidade extrema. A perplexidade é uma parceira no ato criativo – uma colaboradora fundamental. Se o seu trabalho não o deixa suficientemente perplexo, então é bastante provável que não comoverá ninguém.” Anne Bogart


De tudo isso, a palavra que mais gosto é “comoverá”! – Edson Bueno

Quarta-Feira, dia 16, começa um novo grande salto da corda bamba: as Oficinas "Tragédias & Mangá".  Quem viver, verá!!!

Fotos de Chico Nogueira para "Satyricon"

TRAGÉDIAS & MANGÁ - Os mitos....!

NO COMEÇO DE TUDO!



“No começo de tudo a Mãe-Terra surgiu do caos, e enquanto dormia, deu à luz o seu filho Urano. Do alto das montanhas ele a olhava com carinho e fez descer uma chuva fértil, uma chuva secreta e ela deu à luz as ervas, as flores, as árvores e todos os animais. Essa mesma chuva fez correr os rios e encheu de água todas as cavidades, e assim os lagos, os rios e os mares foram criados.”

Esta pode ser UMA história sobre a criação do mundo. Mas poderia também ser outra:

“No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia, as trevas cobriam o abismo e um vento impetuosos soprava sobre as águas. Deus disse: ‘Que exista a luz!’ E a luz começou a existir. Deus viu que a luz era boa. E Deus separou a luz das trevas. A luz Deus chamou de “dia” e as trevas Deus chamou de “noite”. Houve uma tarde e uma manhã, foi o primeiro dia.”

Ou ainda poderia ser assim:

“A noite de asas negras, deusa que Zeus receia, foi cortejada pelo vento e pôs um ovo de prata no meio da obscuridade, e Eros saiu deste ovo, e pôs a funcionar o universo...”


O MITO é isso: uma lenda foi criada para responder a uma interrogação: Como nasceu o mundo? Pode-se acreditar nos mitos? Os gregos acreditavam nos seus mitos? Como nós, acreditavam mais ou menos, dependendo dos dias, portanto, acreditavam muito quando aconteciam catástrofes...

TRAGÉDIAS & MANGÁ - Teatro bom...!


"Teatro bom me interessa. Pode ser de pesquisa, autoral, 'teatrão', musical, da Broadway ou francês. Por que temos tanto preconceito? Há pequisa e trabalho duro em qualquer meio - não necessariamente, mas sem conhecer não se pode julgar. Aí começa a nossa indelével separação em castas que não ajudam a ninguém, a não ser aos abutres que nos comem com farinha, já que todo mundo franze o cenho para a interpretação artística do próximo."
Eduardo Semerjian

TRAGÉDIAS & MANGÁ

TRAGÉDIAS & MANGÁ


Demos hoje o start para um novo projeto: “Tragédias & Mangá”! Dele vão nascer duas Oficinas que acontecerão entre os meses de abril e julho e que resultarão em dois espetáculos diferentes. Um criado com os alunos do período da tarde e outro criado com os alunos do período da noite. Será uma imersão de três meses em fisicalidade, expressão vocal, pesquisa e construção de um mistério. O mistério do acontecimento presente! Como sempre acontece com os espetáculos do Grupo Delírio, o exercício é da proatividade e da colaboração como matéria de trabalho. Eu não tenho dúvidas de que faremos dois espetáculos inesquecíveis! Duas experiências arrojadas e profundas. Em certo sentido o mergulho físico experimentado em “Satyricon” será aprofundado e transformado. E a plateia receberá um teatro que toma emprestado material do passado (Tragédias Gregas) e do presente (Mangás) para um acontecimento humano mais que humano! Vamos então ao grande trabalho de três meses com a certeza de que os deuses do teatro (Dionísio na veia!) vão nos iluminar e estarão presentes em cada segundo de nossa respiração! Dia 16 de abril será um dia de festa!!! 


SATYRICON DELÍRIO - Saudade....


Saudade do movimento, da ação, da construção, das dúvidas e das certezas, da invenção, do inesperado, dos imprevistos, dos brilhos nos olhos, dos largos sorrisos, das ansiedades, das palhaçadas, da loucura, da inocência, da coragem, das palavras... Saudade de um processo que só teve o "sim" como bússola! Saudades...


Foto de Chico Nogueira
OFICINA II - “INVESTIGAÇÃO SOBRE O TEATRO – TRAGÉDIAS GREGAS E MANGÁ”



01. Data da oficina: De 14 de abril a 08 de julho de 2014.
02. Tempo de duração:
TURNO I; quartas, quintas e sextas-férias das 14h30 às 18h
TURNO II: segunda-feira, terças-feiras e quartas-feiras das 19h até 22h30
03. Local: Casa do Damaceno – Rua 13 de Maio 991 – Curitiba. Pr.
04: Total de horas da oficina: 135 horas.
05: Conteúdo programático da Oficina II: A oficina envolve teoria e prática. A tragédia grega e suas traduções, o teatro da espontaneidade, pontos de energia, (des) construção da dramaturgia e do personagem, conceitos de concentração, presença, ritmo, dramaturgia da interpretação, voz e sensibilidade. O corpo como reflexo do ator em sua integridade. Tempo e espaço interferindo na presença cênica. Pontos de concentração e as quatro âncoras da atitude cênica: o ator, o ator e o outro, o ator e o espetáculo, o ator e o público. A verdade cênica e os conceitos contemporâneos de fé cênica e memória emotiva. O ator livre, artista, cidadão e criador. A construção de uma dramaturgia nova a partir de tragédias gregas: AS TROIANAS, de Eurípedes; ÉDIPO, de Sófocles; PROMETEU ACORRENTADO, de Ésquilo, entre outras... e formato de MANGÁ (HSITÓRIAS EM QUADRINHOS JAPONESAS), principalmente influenciado pelo quadrinista SUEHIRO MARUO, um dos mais radicais criadores de Mangás.
06. Da construção dramatúrgica nascerá um espetáculo com todos os participantes e que acontecerá no mês de Julho de 2014.
07. Os participantes da oficina terão que ser necessariamente maiores de 16 (anos) e não precisam ter DRT, mas devem ter conhecimentos e alguma experiência prévia com as Artes Cênicas.
08. O número máximo de participantes da Oficina será de 20 (vinte) integrantes.
09. Preço da Oficina II:
. Valor da matrícula: R$ 50,00 – (Cinquenta Reais) -
. Três parcelas de 220,00 (Duzentos e Vinte Reais) pagos até os dias 10 de abril (primeira), 08 de maio (segunda parcela) e 12 de junho (terceira parcela).
Opções de pagamento:
. Parcela única. Para quem estiver interessado em efetuar em parcela única até o dia 10 de Abril, o valor é de R$ 550,00 (Quinhentos e Cinquenta Reais)
. Pagamento das parcelas antes das datas programadas (10 de abril, 08 de maio e 12 de junho), desconto de R$ 20,00 (vinte reais).
10. As inscrições deverão ser feitas no e-mail – grupodelirio_producao@hotmail.com.br
– informando:
a. Nome -
b. RG -
c. Data de nascimento –
d. Telefone -

11. Maiores informações pelos telefones (41) 84068187 e (41) 96931776.