SENSIBILIDADE, PROFUNDIDADE, CONCENTRAÇÃO, EXPRESSIVIDADE...
Patrick Stewart (Vladimir) e Ian Mckellen (Estragon) em "Esperando Godot", de Beckett
…
- Você fala em atores
sensíveis… Sei do que você está falando. De atores que estão em contato
permanente com a totalidade dos seus corpos. Mas, e atores profundos?
- Fácil também, não é?
- Fácil. Gente que vive cada
momento da sua vida ao máximo.
- É. O problema é que alguns
atores estão vivendo uma coisa e pensando em outra. Ou vivendo tudo pela
metade. Você fala, por exemplo, em “tragédia” e o ator não se dá ao trabalho de
aprofundar o conhecimento do termo. Fica satisfeito com uma explicação rápida. É
preciso ir a fundo.
- Sou assim?
- Mais ou menos. Você não se
alimenta de nem um décimo do que precisa e de nem um pentelhézimo do que pode. Contenta-se
com pouco. Acha que desejo é tudo. Mas desejo é só um ponto de partida.
- Você me acha, pelo menos, concentrado?
- Concentração é treinamento. É
desenvolver a capacidade de viver intensamente cada segundo do momento
presente. Quando você treina isso, por exemplo, nos ensaios, consegue
concentração num estalar de dedos quando vai fazer a peça. Caso contrário vai
ficar, durante as apresentações, procurando aquilo que nunca experimentou. E,
claro, nunca vai encontrar. Tem que treinar, treinar e treinar. Abusar do
momento presente. Aprender a colocar toda a sua energia no momento presente.
- E expressividade?
- Ao contrário de muita gente,
eu adoro atores que gostam de aparecer. “Ninguém sobe no palco para se
esconder” me disse um dia a Fernanda Montenegro. Claro, ela não disse só pra
mim, mas para uma plateia de 100 alunos no Mini-Auditório do Teatro Guaíra. Mas
disse. Gosto de gente que abre os braços ao máximo, que se escancara, que
exagera, que se entrega para as emoções mais espalhadas. Gosto de atores
narcisistas no bom sentido. Ser narcisista não é, necessariamente, ser
egocêntrico. Ser narcisista é gostar de se mostrar, de usar todas as técnicas
para que os olhos da plateia estejam nele. Isso também não tem nada a ver com
“roubar cena” ou usar de golpes baixos. Tem a ver com paixão, com necessidade
de estar presente, de se comunicar. Sei, sei que o limite entre o certo e o
errado é tênue. Mas é preciso experimentá-lo para ir além do óbvio. Só quem
arrisca surpreende.
- Mais alguma coisa?
- Os atores precisam emanar luz
e energia, mesmo quando estão estáticos no palco. Isso é técnica, mas é também
predisposição espiritual e humana. É preciso aprimorar a alma, a consciência da
vida, a humanidade. Ser uma porta aberta. Ah, olha aí eu usando e abusando do
Peter Brook novamente!
- Sem problemas.
- Ótimo!
- Que tal um café?
- Opa!
- ...
- ...
- Você acha que eu chego lá?
- O que você acha de você
mesmo? E dos caminhos pelos quais tem caminhado?
...
Patrick Stewart (Vladimir) e Ian Mckellen (Estragon) em "Esperando Godot", de Beckett
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