"O meu país é a utopia. Um mapa do mundo que não compreenda o país da Utopia não merece nem mesmo um olhar, pois ignora o único país ao qual a humanidade continuamente chega. E quando a humanidade lá atraca, fica alerta, e levanta novamente as âncoras ao vislumbrar uma terra melhor."- Oscar Wilde

TRAGÉDIAS & MANGÁ - Sensibilidade, profundidade, concentração, expressividade....


SENSIBILIDADE, PROFUNDIDADE, CONCENTRAÇÃO, EXPRESSIVIDADE...

Patrick Stewart (Vladimir) e Ian Mckellen (Estragon) em "Esperando Godot", de Beckett

- Você fala em atores sensíveis… Sei do que você está falando. De atores que estão em contato permanente com a totalidade dos seus corpos. Mas, e atores profundos?
- Fácil também, não é?
- Fácil. Gente que vive cada momento da sua vida ao máximo.
- É. O problema é que alguns atores estão vivendo uma coisa e pensando em outra. Ou vivendo tudo pela metade. Você fala, por exemplo, em “tragédia” e o ator não se dá ao trabalho de aprofundar o conhecimento do termo. Fica satisfeito com uma explicação rápida. É preciso ir a fundo.
- Sou assim?
- Mais ou menos. Você não se alimenta de nem um décimo do que precisa e de nem um pentelhézimo do que pode. Contenta-se com pouco. Acha que desejo é tudo. Mas desejo é só um ponto de partida.
- Você me acha, pelo menos, concentrado?
- Concentração é treinamento. É desenvolver a capacidade de viver intensamente cada segundo do momento presente. Quando você treina isso, por exemplo, nos ensaios, consegue concentração num estalar de dedos quando vai fazer a peça. Caso contrário vai ficar, durante as apresentações, procurando aquilo que nunca experimentou. E, claro, nunca vai encontrar. Tem que treinar, treinar e treinar. Abusar do momento presente. Aprender a colocar toda a sua energia no momento presente.
- E expressividade?
- Ao contrário de muita gente, eu adoro atores que gostam de aparecer. “Ninguém sobe no palco para se esconder” me disse um dia a Fernanda Montenegro. Claro, ela não disse só pra mim, mas para uma plateia de 100 alunos no Mini-Auditório do Teatro Guaíra. Mas disse. Gosto de gente que abre os braços ao máximo, que se escancara, que exagera, que se entrega para as emoções mais espalhadas. Gosto de atores narcisistas no bom sentido. Ser narcisista não é, necessariamente, ser egocêntrico. Ser narcisista é gostar de se mostrar, de usar todas as técnicas para que os olhos da plateia estejam nele. Isso também não tem nada a ver com “roubar cena” ou usar de golpes baixos. Tem a ver com paixão, com necessidade de estar presente, de se comunicar. Sei, sei que o limite entre o certo e o errado é tênue. Mas é preciso experimentá-lo para ir além do óbvio. Só quem arrisca surpreende.
- Mais alguma coisa?
- Os atores precisam emanar luz e energia, mesmo quando estão estáticos no palco. Isso é técnica, mas é também predisposição espiritual e humana. É preciso aprimorar a alma, a consciência da vida, a humanidade. Ser uma porta aberta. Ah, olha aí eu usando e abusando do Peter Brook novamente!
- Sem problemas.
- Ótimo!
- Que tal um café?
- Opa!
- ...
- ...
- Você acha que eu chego lá?
- O que você acha de você mesmo? E dos caminhos pelos quais tem caminhado?
...

 Patrick Stewart (Vladimir) e Ian Mckellen (Estragon) em "Esperando Godot", de Beckett

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