A Indiferença
Este domingo, dia 02 de fevereiro, foi um domingo estranho. Porque eu
tive a sensação de que coisas morriam dentro de mim, pedaços da minha história,
partes fundamentais da minha vida de artista. Porque eu sei que eu não sou só
eu. Que eu sou a soma das coisas que amo, que admiro, nas quais me espelho e
que alimentaram os meus sonhos. Assim me senti quando morreu o Chaplin, o
Hitchcock, a Ingrid Bergman, o Paulo Autran e a Lala Schneider, por exemplo. E,
de repente, eu me transporto para o extinto Cine Ritz, que hoje é a Magazine
Luiza e lembro-me assistindo ao lançamento de “Cabra Marcado Para Morrer”, o
documentário definitivo do cinema brasileiro. E a certeza que eu tive naquele
momento de que eu mudara durante a sua projeção. Não era o mesmo Edson que
tinha descido as escadas e que depois subia para encarar o calçadão da Rua XV. Eduardo Coutinho, com seu filme excepcional, tinha me ensinado sobre a importância da história e da política na vida
das pessoas. Tinha me ensinado sobre a força interior e a grandeza das ideias e
dos verdadeiros sonhos. Tinha me ensinado sobre a crueldade e a dureza da vida.
Tinha me ensinado que a justiça é mais um desejo que uma realidade. Tinha me
ensinado que o cinema é bem mais do que diversão e entretenimento. Que pode ser
um profundo mergulho na humanidade. E um pouco mais das horas do domingo e eu
estou lembrando das lágrimas de Phillip Seymour Hoffman em “Magnólia”, de Paul
Thomas Anderson e a sua monumental entrega à arte da interpretação vivendo
Truman Capote num filme excepcional, alimentado por um dos livros mais
importantes da minha vida: “A Sangue Frio”. Phillip que interpretava no limite
da emoção e que tinha nos olhos a profundidade dos grande obsessivos. Todos os
seus personagens eram trágicos. Até quando fazia um sujeito frio e calculista
como nesse filmeco “Jogos Vorazes 2” ou no grandioso “O Mestre”, também do
Anderson. Vai-se uma referência, uma admiração, um dos atores de cinema mais
importantes dessa nova geração. E para completar o domingo, leio a notícia de
que a filha adotiva (?) de Woody Allen/Mia Farrow manda uma carta ao New York
Times contando que foi abusada por Woody quando tinha 7 anos. Pra ser sincero
não sei de nada sobre essa história e sempre acho que tantas atrizes e tantos
atores amam tanto Woody e que viveram os acontecimentos no dia a dia de suas
vidas, que sempre penso que há coisas sobre o manto dessa história que são mais
obscuros do que imaginamos. Nunca gostei da Mia como atriz e sempre amei Woody
como diretor e roteirista. É, disparado, um dos três maiores diretores do
cinema, pelo menos pra mim. Os outros dois são Alfred Hitchcock e Federico
Fellini. Ficam tentando me fazer crer que Woody é um pedófilo, como tentaram me
convencer que Hitchcock era um misógino católico/sádico e que Fellini era um
italiano preconceituoso e careta. Sei lá. Não farão com que morram em mim as
pessoas mais importantes da minha vida. Como no filme “A Caça” de Thomas
Vinterberg, vivemos num mundo medroso e pervertido, onde tudo é usado e abusado
para julgar, condenar e matar. Vivemos em 2014 com pensamentos da idade média
alimentando nossas leis, nossa política, nossas relações. Enfim... termino este
domingo com o coração apertado. Porque sou um sonhador e um apaixonado. E
talvez, inocente demais...
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