AQUECENDO OS SENTIMENTOS... (2)
“Para mim, atuar é uma exploração em constante
evolução, em vez de uma progressão em direção a um objetivo final.”- Harold
Guskin
“Ninguém sobe no palco para se esconder.”- Fernanda
Montenegro
Edson Bueno no espetáculo "A Venus das Peles", adaptação de Sacher Masock por Pagu Leal
Em nossos tempos de total diversidade de opções para o ator na cena,
quando tudo é absolutamente possível desde que seja sincero e verdadeiro, uma
pergunta que sempre aparece do nada é esta santa complexidade: “Eu tenho que
criar um personagem ou tenho que ser eu mesmo, ou ainda, quem sou eu em cena?” Ufa!
Haja cuidado para responder sem ser irresponsável! Bem, Eu penso que é tudo e
tudo mais! E acredito que o ator tem que ter alguns objetivos que ao invés de
serem fins, são meios. Pra começo de conversa quando vamos começar um ensaio, a
primeira coisa que temos que ter em mente é que não temos um personagem pela
frente, mas um espetáculo! Interpretamos um espetáculo, uma proposta, uma
ideia, uma linguagem, uma opção artística ou até uma história, se for o caso. É
por aí que começamos a pensar como atores! E é justamente neste aspecto que
aparecem dois tipos de bons atores, que mesmo trabalhando com a intuição, podem
determinar um resultado satisfatório ou não, conforme a opção. Seja ela
consciente ou inconsciente. O primeiro caso, equivocado eu diria, é aquele
sujeito criativo, elaborador, pesquisador, cuidadoso, disciplinado e
trabalhador, mas que vai construindo um ser para estar em cena e que estará
sempre a serviço dele próprio. Toda a criação estará a serviço do ego, do
brilho, da exposição, da presença. Então tudo à sua volta terá que moldar-se às
suas necessidades e todo trabalho estará voltado para que a plateia olhe para
ele e o admire, seja para o feio ou para o bonito. Há neste ator uma beleza
cênica indiscutível e ele, realmente, constrói um estado de interpretação que,
quase sempre, encanta os olhos. Há criação, há construção, há disponibilidade,
mas alguma coisa não acontece e um vazio se estabelece entre ele e o
espetáculo. Um vazio imperceptível de prima e que parece desnecessário. Mas o
fato é que ele está lá e esse ator parece se deslocar do todo sem que seja um
elemento positivo do espetáculo, mas um adendo, interessante de se ver, porém
desnecessário e em casos mais graves, complicador. O espetáculo não acontece
nem avança quando ele está em cena fazendo ou falando. Ele não é um ator, é um
ruído. (continua...)
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